Desfrutar-se.
- Poeta dos Jardins
- 30 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Todo poeta que se presa, deseja sentir sabores intensamente e escrever com o pleno coração e a transparência do próprio ser aquilo que sente. É uma simplicidade que a sociedade por muitas vezes conclui em extremos complexos caracterizados, como o tempo demonstrou escritores à margem da sociedade, e outros com o suprassumo das honrarias de cadeiras e condecorações sobre o simulacro da representação cultural.
A questão é que o ato de escrever caracteriza bem o sentido do rabisco que escrevo agora, porque o significado de se desfrutar não é simples, mas também não pode ser deixado de lado, pois como toda a fruta e alimento com propriedades ácidas, o doce e o volume do que nos alimentamos cotidianamente tem preceitos que se desenham no dia a dia. Assim, o que costumo escrever como lugar pertinente, é a prescrição circunscrita de dois pontos específicos: o primeiro trata da raridade em poder sentir e ter a oportunidade de traduzir os sabores para apresentar as pessoas e a sociedade nossas impressões. A segunda prescrição é aquela que permite deixar a dimensão fisiológica dos sabores para encontrar e decifrar o sentido transcendental daquilo que se debruça a saborear no cotidiano.
Assim, todo escritor também é permeado pela prática da leitura e no silêncio e atenção as palavras é que encontra-se uma porção de frutos nutridos com criatividade e pedidos para atitudes ousadas e seguras de si. Quanto mais lemos, mais percebemos que a enseada da consciência coletiva e da busca por indicar o universo em sensibilidade, se traduz em uma oportunidade de encontrar ensinamentos que nos indicam o caminho para seguir.
Desfrutar-se, também significar deixar a própria casca, néctar e núcleo com o sentido de autoconhecimento, porque na identificação de cada parte daquilo que somos, nos damos conta de que existem partes e singularidades dentro de nós mesmos que precisam ser saboreadas. Seja a casca ou o caroço, o que parece salgado ou doce muitas vezes está no campo dos desejos e das vontades, mas na perspectiva da essência, que inocentemente já imaginamos que seja o centro ou núcleo desta fruta, fruto ou ser. A presença pode aparecer na parte acabrunhada da casca que apresenta uma estrutura significativa para que o sabor das pessoas não seja corrompido. Podemos reconhecer erros, elencar melhorias, construir defeitos...
Desfrutar-se, portanto, é se dar direito ao silêncio e a contemplação das próprias realidade e principalmente da capacidade de analisar as próprias escolhendo, criando assim um leque repleto de palavras e versos que simplesmente indicam caminhos para desenvolver sensibilidades. O silêncio nos traz segurança, e com esta a poesia caminha a passos concretos e claros para poder descrever e dialogar com o que bem entende querer estudar.
A atitude de versar é um estudo íntimo, porque dentro do silêncio saboreamos o que já está dentro de nós, a ressonância daquilo que já vamos sentido e principalmente daquilo que nos alimentamos nesta breve existência até aqui, e nas prescrições da atitude de silenciar, evidenciam-se estes dois momentos de indicar caminhos e transcender os caminhos. Desfrutando o que há de melhor na existência daquilo que somos, além da imagem complacente daquilo que queremos.
O silêncio caracteriza o desfrutar-se como tema rabiscado, porque não é uma empiria genérica que está escrita apenas para satisfazer desejos egoístas. Mas, se apresenta nestas linhas porque é diálogo que apresenta ou transcende o fato de escutar-se, como recomendação de doses de atenção e práticas para o auto cuidado, e principalmente para a relação espontânea dentro de si mesmo.

Ou seja, escrevo estas singelas palavras para poder atentar a importância de cada ser se dá conta de olhar para dentro de si, assim como na formulação de elementos e silêncios significativos para poder perceber-se.
Como poeta, posso transparecer um ser inquieto escrevendo palavras que não vivo, e de fato a leitura nesta perspectiva está correta. Entretanto, só escrevo desta forma por que faço este caminho com a perspectiva em poder dar passos para poder desfrutar aquilo que sou. E todas as pessoas são belas em suas essências e possuem tempo para poderem ser melhores, cabe apenas saber e indagar os pontos necessários para buscar o desejo de perceber-se, silenciar-se e principalmente desfrutar-se.
Eis os versos:
"Procuro seu destino e sua presença
diante da fábula que emoldura meus sonhos,
pois você não apenas faz parte deles,
mas presencia de forma indiscreta
a verdadeira conexão entre minhas vontades
e prioridades".
"Diante das folhas de outono vejo o corpo celeste
detalhado no chão,
seco e sem amor,
sozinho e triste no chão deserto.
É assim que te vejo,
numa estação vencida,
numa estação triste".
"Não vou escrever as linhas de um futuro incerto,
pois quando escrevo,
cicatrizo ideias
e aí procuro fazer o possível para mudas as linhas,
as palavras
e um pouco do mundo".
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