Muito mais que um sentido de vida.
- Poeta dos Jardins
- 28 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
Recebemos um presente, daqueles semelhantes e análogos a historieta de Tróia, porque cavalga dentro do tubo respiratório de carne, e com ele a constante sigla que só aprendemos quando aprendemos a fazer com que vozes e tons conquistam resposta... Não é tão suave ouvir desde o primeiro instante de vida a palavra trabalho. Para respirar, comer, defecar, sonhar, sentir e sentir-se acariciado exige diversos trabalhos em diversas dimensões que a humanidade aprendeu a separar. Porque falar e olhar são expressões de um mesmo sentido, porém na complexidade deste simples ato, há inúmeras formas de interpretação da comunicação. É assim que inicio este enredo de escrever sobre algo que é muito mais que um sentido de vida. Sim, o trabalho.
Pode parecer injusto eu tentar nestes breves conjuntos de sentidos e palavras descrever o trabalho como um sentido que transcende o sentido da vida. Mas, vou me permitir usar de uma equação lógica simples, quando o trabalho que equivale a uma determinada força é capaz de construir e simbolizar algo que pode transferir e perdurar até após a própria existência, ou seja, além do sentido limitado da vida. E muitas vezes um trabalho que a humanidade convenciona inserir muito valor, é tido como exemplo para um senso de eternidade, porque na oralidade, escrita e memória dos seres humanos, alguns outros humanos se destacam em fazer de diversos sentidos, o trabalho árduo de provocar nas pessoas o conhecimento, sentimento, desejos, referências daquilo que as pessoas escolheram se apoiar para encontrar o sentido da vida.
Entretanto, uma pergunta fica, - Por que o trabalho é muito mais que um sentido de vida? Justamente porque não são todas as pessoas que gostam de trabalhar e este poeta que escreve se insere neste grupo de pessoas, e se julga aos olhares inquisitores da sociedade como preguiçoso. No dicionário do poeta, o trabalho é algo valoroso porque atende a regras e situações criadas pela humanidade para a própria subsistência. Nesse sentido cabe aqui identificar que é apenas trabalhando que algumas situações ultrapassam o limite da própria existência. E assim o sentido de plantar uma árvore, criar filhos e escrever teses adentra um universo que não podemos comensurar. Muito mais que um sentido de vida, Delacroix descreve exatamente a função entre existência, tempo e trabalho. E nesta relação simples o conceito de vida se torna banal quando não se pode atribuir força aquilo que a pessoa sente vontade de fazer, criar, expressar.
"Mais uma guerra sem razão, já são tantas as crianças com armas na mão, mas explicam novamente que a guerra gera empregos, aumenta a produção. Existe alguém que está contando com você pra lutar em seu lugar, já que nessa guerra não é ele quem vai morrer." (Renato Russo)

Por coração ou cérebro, creio que vou morrer não por que desisto da vida, mas sim por que quero uma vida nova onde eu possa descansar em paz e fechar meus olhos para sempre, das pessoas que só sabem falar de leis e vidas alheias. Infelizmente é difícil respeitar alguém que nunca te respeita, mas sim ao seu dinheiro.
Não quero dinheiro, não quero leis, não quero atributos, mas sim direitos de e para a equidade. Estou ferido, porém prefiro continuar ferido...
E em um sentimento que pode ser vivenciado com toda a transparência possível, é necessário arquitetar a própria forma de ser e estar com a vida. O valor é algo primoroso, porque somos o que cultivamos também com nosso trabalho. E para que este seja valoroso, é necessário atribuir a consciência diante do que fazemos.
"O trabalho não dignifica o homem" porque o ser em si é mais complexo que a dimensão do próprio sustenta, e nesse sentido a vida também não é o suficiente. Justamente pela quantidade de dimensões que se pode verificar e experimentar nessa experiência em vida. Por mais significativa que seja a essencialidade da vida, há uma característica marcante que é a necessidade de ser ciente daquilo que se é. E esta caráter por si é muito maior do que qualquer coisa que possamos imaginar.
Muito mais que o sentido da vida, é o sentido da simplicidade dos próprios atos, da vontade de observar a necessidade do próximo e própria. Do fato de conjugar as situações mais desafiadoras da vida e encontrar soluções para poder continuar nesse espaço de encontro consigo.
Os versos, mais que os sentidos, permitem que as diferenças sejam valorizadas porque cada palavra pode ter um significado específico para cada leitor e assim é o trabalho. Cuja importância está no sentido daquilo que fazemos e também daquilo que insistentemente tentamos preencher dentro de nós mesmos.
Eis que nesta reflexão eu me permito não deixar versos no final, porque o que há de maior ao sentido de vida é totalmente individual, mas a dica é: - não elencar um ponto de exclamação ou final as perspectivas que a experiência da vida pode apresentar.
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